sábado, 5 de novembro de 2011

Capítulo 1 - A vida é sonho

Noderclift, 19 anos depois.


Annabelle 
Estavam ambos, majestosos, no céu sobre mim. O verde cuspiu uma chama azulada na fera de cor marrom, que se lançou em direção ao pescoço do anterior, abocanhando-o subitamente. A criatura rugiu e sangue escuro e viscoso espirrou pelo céu manchando ambas as criaturas. O verde tentou resistir. Debateu-se. Mas a besta marrom parecia maior, e mais forte. Ainda assim o primeiro não se daria por vencido. Voou numa velocidade inacreditável em direção ao chão, passando suas garras com toda força ao redor do marrom e cravando-as, de modo que este rugiu estrondosamente.
Tanto sangue.
Eles não conseguiriam se separar, um não libertaria o outro. Mas nenhum deles morreria sozinho. Nenhum deles aceitaria a derrota.
Eles debatiam-se, tentando ferir um ao outro o máximo possível, enquanto voavam velozmente rumo ao chão. A colisão certamente aconteceria.
Então um forte vermelho alaranjado tomou conta de minha visão, mas aquilo, definitivamente, não era sangue. O calor uniu-se a estranha cor e juntos causaram-me uma sensação desagradável, porém quase habitual para mim. E o desconforto forçou meu despertar.
Abri os olhos vagarosamente, tentando evitar o choque da luz cegando-os momentaneamente.
Em vão.
Eu precisaria voltar a dormir em minha cama, caso quisesse diminuir a dor causada em meus olhos pelo Sol logo de manhã, mas a sensação de ser acordada por seu calor causava-me estranhos conforto e segurança... Era essencialmente calmo e sereno.
O céu estava claro e límpido como era de se esperar. Um azul hipnotizador, enodoado vez ou outra por claras nuvens macias e acetinadas que se desvaneciam ao passo que a leve brisa soprava calma.
Sentei-me na rede, fechei meus olhos mais uma vez e respirei fundo o ar daquela manhã. Tanta coisa a ser feita. Estiquei-me em direção a um galho um pouco mais alto, e sem folhas, onde a lamparina de gás estava pendurada e apaguei a fraca chama. Alonguei meus braços para o alto, emitindo um som semelhante a um ronronar ao espreguiçar-me, causando um leve balançar na rede. Aproveitei o impulso e, sorrindo, pulei no chão. Como sempre, ajoelhando-me para amortecer a queda.
Teria que arrumar um novo modo de ir para cama... Subir quase seis metros numa grande árvore de poucos galhos baixos não estava sendo exatamente suficiente, ou prático, mas a rede amarrada nesta altura da árvore e, na outra ponta, numa antiga árvore seca e tortuosa, me parecia a coisa mais segura fora da barraca em que eu supostamente deveria morar.
Caminhei alguns metros pela mata fechada até encontrar uma clareira, e no centro desta, a casa. Continuei andando em sua direção, ouvi relinchares ao passar ao lado de um barracão notavelmente maior que a cabana. Isso me fez sorrir. Devem estar famintos, precisaria passar ali em breve. Adentrei a casa, peguei a primeira jarra que estivesse ao meu alcance e sai novamente. Puxei um dos vestidos lavados do varal improvisado e dirigi-me ao riacho mais próximo.
**
O céu permanecia sereno sobre minha cabeça. A solidão me parecia uma companhia maravilhosa. O som da água correndo vagarosamente, dos pássaros nas poucas árvores a beira do riacho. Era tudo o que se fazia necessário.
Sabia que não haveria ninguém além de mim ali, ainda assim, olhei cautelosamente ao meu redor antes de despir-me.
O líquido era límpido, quase cintilava com o reflexo do Sol e seu azul assemelhava-se ao do céu, a água parecia tão calma que a julguei preguiçosa. Corria lenta, quase como se não quisesse se separar daquele lugar. Ajoelhei-me sorrindo e lavei meu rosto. Senti a água fria escorrer por minha testa e bochechas, e depois seu gotejar por meu pescoço. Repeti o processo duas ou três vezes, não me recordo bem, e voltei a postar-me de pé. Fechei os olhos para sentir melhor a brisa bater em meu rosto, possuía um típico e delicioso cheiro de orvalho da manhã, inspirei fundo aquele aroma, quase como se a natureza falasse comigo por meio dele. Se o fizesse, estaria com certeza sorrindo e dando-me um muito bom dia.
Entrei receosa na água fria, pé ante pé, e quando a água já batia em minha cintura, algo passou sobre minha cabeça. Mesmo que por alguns segundos, o Sol havia sido bloqueado por alguma coisa. Um arrepio percorreu minha espinha e o frio chegou antes do vento: uma lufada de ar gelado, extremamente forte, contrastando por completo a brisa fresca e suave, quebrada pela luz quente.
Fiquei imóvel esperando aquilo passar, e passou quase tão rápido como veio, deixando apenas o frio e um mau pressentimento, que permaneceram, como se cada célula do meu corpo, gritasse que havia algo errado. Não entendia o que havia sido aquilo.
Não pude me banhar calmamente. Cada gota e todo sopro pareciam-me fora do lugar. Era como se me alertassem dizendo que havia algo estranho, que algo estava muito errado. E eu sabia que estava. Tratei de lavar o vestido do dia anterior e vestir o seco rapidamente, enchi a jarra que levara comigo, e caminhei para casa, tentando afastar de minha mente aquela sensação assustadora.

9 comentários:

  1. Flor, a estória está ÓTIMA!!! Estou adorando!! Curto muito o gênero fantasia e sua estória me deixou muito curiosa!!! Ótimo trabalho!

    Bjinhos!

    Swan
    @swannx
    Bem pra Mente

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  2. Muito bom ver jovens escritores mostrando seu talento e "botando a cara a tapa", divulgando. Parabéns, menina! O texto é bom, a história é envolvente, deixa ansioso pela continuação.

    Siga em frente, e bem vinda ao mundo dos escritores!

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  3. jonas Daniel Rocha Pereira7 de novembro de 2011 às 12:01

    Vc ta de parabéns!Vc é uma otima escritora!!!

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  4. Dificilmente encontramos um primeiro capítulo que faça você se envolver na história. Parabéns, adorei, de verdade (:

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  5. Amei a historia e o modo como vc escreve,de uma forma muito muito profissional,encantadora e madura.Parabéns!bjos @ninika04

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  6. Nossa gostei muito mesmo desse primeiro ccapitulo, estou indo para o segundo.

    Beijos Fran- Sociedade das Leitoras

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  7. Dá até vontade de rir, prólogos em terceira pessoa e capítulos em primeira. Meus livros são o contrário! asuhauhsuhashausuhsauhsa

    Bem, só o começo né, mas tenho que dizer que to gostando bastante ^^

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  8. Olá!!!!
    Sou amiga da stephanie!!!!
    ela me indicou o seu livro mas ela tbm disse q ele ainda n foi publicada,fiquei anciosa pois estou sem nenhum livro para ler...
    eu amoo ler e se por acaso vc n lembra da stephanie ela me disse q vc era prima ou algo parecidooo.
    estou esperando anciosamente para a publicaçao de seu livro!!!!
    boa sorte leyla

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    1. ESTOU MT ANCIOSA PELO PUBLICAMENTO DE SEU LIVROO!! A STEPHANIE FALOU Q ELA TBM ESTA MT ANCIOSAAAAAAAAAAAAAAA
      BJOS LEYLINHAA

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