quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Prefácio

Era uma noite fria e escura. Um cobertor úmido espalhava-se por toda a floresta que estava mais quieta que o comum. Todos haviam escutado os boatos. Todos eles. Somente as sombras perambulavam pelos galhos tortuosos. Deixando a floresta ainda mais curiosa, pensou Draco. Ele se sentia confortável em ambientes como este. Gostava do silêncio... Se ao menos as vozes parassem. Tentou bloquear as mentes assustadas que seus olhos não podiam ver, mas sua mente delatava. Encarou a floresta. O que diabos vim fazer aqui?
A densa floresta impossibilitava a visão do céu, mesmo assim, Draco sabia que este não era como os dos outros dias. O céu daquela noite não era escuro e azul como o mais profundo dos oceanos. Não. Aquele era vermelho como sangue velho e seco. Mesmo as estrelas pareciam querer fugir da doentia cor. Um leve tremor vinha das árvores. Suas raízes buscavam terra a vários metros abaixo do chão, naquele momento, não se importavam com o calor, importavam-se apenas com não serem extintas com a queda dos céus. Quanta tolice. Tal profecia mortal nada dizia sobre Agnitellure. A terra casta.
As folhas verdes das árvores sussurraram entre si. A presença da criatura de cinco metros as amedrontava. Draco bufou sarcástico. A queda dos céus deve ser realmente assustadora quando a simples presença de um dragão as amedronta. Apesar de seus pensamentos terem sido refletidos apenas em sua cabeça, Draco pôde sentir o pavor das folhas e de todas as outras criaturas ali presentes aumentando. A bufada mais lhes parecera com um rosnado nervoso, que se tornou ainda mais assustador pelo fato de que a maior parte daquelas criaturas nunca estivera na presença de um dos representantes.
O que houve com o silêncio? O dragão estava começando incomodar-se quando uma Sequóia gigantesca silenciou suas folhas e comunicou um Cipreste de semelhante imensidão para que fizesse o mesmo, e juntos, com um sussurro do vento calaram toda a mata. A criatura sentiu-se grata e acenou com a cabeça para a antiga Sequóia, e de algum modo, Draco soube que esta se sentiu orgulhosa com tal aceno.
Havia uma grande camada de folhas secas no chão. O cheiro bom de terra molhada e das folhas verdes nas árvores mesclava-se a um cheiro podre vindo do chão e o cheiro vertiginoso vindo daquele céu grotesco... Como se a espessa neblina não fosse suficiente, o céu parecia tornar o ar ainda mais pesado. Draco tentava reconhecer o estranho cheiro daquele céu vermelho quando sentiu um outro cheiro, era algo um pouco ácido, e ao mesmo tempo parecido com enxofre. Um cheiro acre. E só então viu um anjo descer dos céus por entre as arvores, as vestes muito brancas contrastando com a escuridão, com o pequeno volume envolto em seus braços.
A criatura era fantástica. Asas longas e sinuosas, de um branco muito puro surgiam das costas de um humano quase comum. Os cabelos castanhos claros um pouco abaixo da orelha eram desgrenhados, mas visivelmente macios. A pele branca ressaltava os olhos muito negros. Olhos de abismo. Olhos de uma alma que conhecera a felicidade verdadeira, e que sabia que nunca poderia tocá-la novamente. Não possuía uma expressão triste, mas uma esperançosa em seu rosto. Os enormes músculos da outra criatura se retraíram. O dragão pensou mais uma vez se realmente deveria estar ali. Era muita responsabilidade, e ele não sabia se estava preparado para tudo isto. Os boatos poderiam ser verdadeiros? Não aqueles sobre o desabamento dos céus, mas sobre a criança, e tudo mais. A criatura nas vestes claras parecia exalar conforto e segurança. Draco deu-se por vencido. Não poderia negar um favor à um anjo. E aquele tinha uma áurea maravilhosa, como se tivesse luz própria. Era magnífico.
Draco forçou sua concentração. Tinha que ser forte. O anjo estava quase a 5 metros do chão quando alcançou o nível do rosto dele, a criatura rugiu envergonhada por ter se distraído. Perguntou a si mesmo se era digno de tamanha confiança.
O anjo assentiu com a cabeça, e Draco imediatamente lembrou-se que não era o único que lia mentes. Mesmo em centenas de anos não se acostumaria. Talvez aquilo fosse um pouco de presunção, ou apenas não estivesse acostumado a conviver com outras criaturas. Balançou a cabeça, afastando as idéias. O anjo, com um sorriso torto no rosto antes sereno, afastou-se um pouco, e então um clarão de luz encheu a floresta e a imensa criatura deu lugar a um jovem de um metro e noventa, pele tão clara quanto a do anjo e cabelos negros. Mais escuros que uma fria noite de inverno. Olhos azuis como o céu limpo de uma manhã de primavera. Mas estes eram preocupados. Temerosos.
 Sentou-se sobre uma pedra; um pé encostado no chão e o outro sobre a pedra, com o joelho perto do rosto, onde encostou um braço.
- Gabriel, Anael, Daniel... Seja lá qual for, veio anunciar-me que serei papai? – disse o jovem em tom de júbilo.
O anjo simplesmente riu.
- Vai me caçar depois de devorar a criança, Draco? – o anjo havia alcançado o chão, e agora estava a apenas dois ou três passos do jovem, que se levantou sorrindo. – sabe que outro anjo se ofenderia, não é?
- Imaginei que sim, mas, ter um dragão como inimigo não seria exatamente bom para um anjo caído.
Os dois sorriram e se abraçaram. Tomando cuidado com o volume nos braços do anjo. Depois de um longo instante, Draco olhou-o, sereno, mas muito preocupado, e então voltou sua atenção para o amigo.
- Micah, acredita mesmo que eu seja qualificado? Por que não uma ninfa? Um anão ou um elfo? Um unicórnio provavelmente criaria muito bem um híbrido.
O anjo mostrou-se assustado, mas um instante depois parecia estar segurando-se para não cair na gargalhada.
- Você, criar a criança? – o anjo deixou escapar uma pequena risada – se eu quisesse matá-la não me daria o trabalho de te chamar.
Draco sentiu-se ofendido com o tom de escárnio na voz do anjo, mas acabou por não dizer nada. Confiaria aquele anjo sua própria vida. Mais do que uma criatura mágica pura, ele era seu amigo de longa data. Um sorriso tentou escapar pelos lábios do jovem de cabelos negros, mas fora repreendido pela expressão de Micah, que continuou, assumindo agora uma voz grave e séria, depois de uma longa pausa:
- Esta criança é fruto do pecado. Há muitas profecias que giram em torno dela. É de uma alma pura e poderosa, ainda assim corre grande perigo, principalmente por sua origem. Não sei dizer ao certo, quantas nem como, mas ela verá a morte muitas vezes.
Houve um momento de silêncio, Draco olhava o pequeno embrulho nos braços do anjo, tentando absorver a informação. Como uma criança pode correr tanto perigo? Era apenas um bebê inofensivo. Quem iria querer-lhe mal? Os olhos do jovem voltaram para os do amigo, que parecia pedir mais um momento de reflexão. Draco sentia que não era algo que Micah poderia explicar-lhe, pelo menos não por completo, e sentiu-se nervoso com isso. Talvez tensão fosse a palavra certa.
- Pensei que a criança que ficaria sob minha guarda era apenas um hibrido. – Draco tentava amenizar um pouco o ar pesado, disfarçando seu próprio medo.
- Basicamente é. – disse Micah num tom muito natural e distraído, mas certamente aliviado pela simplicidade da pergunta do amigo.
- Então por que é um ‘fruto do pecado’?
- Agora não importa, as Víboras estão por perto. Estão caçando-a. – de repente Micah estava aflito, sua voz quase tremia – Preste atenção Draco. Leve a criança para Lucinda, em Noderclift, ao sul do Deserto de Aenis. Ela estará segura lá.
- Noderclift, a terra das Ninfas da música? – o anjo assentiu – O que você pretende Micah? – Draco interrompeu-o.
- O cheiro das Ninfas e dos Aquilaoenges a protegerão.
- Se quer proteção mande-a Flanaeirus. Ninguém a protegerá melhor que os elfos de lá. – Dracos estava com medo. Sentia que algo estava terrivelmente errado, e Micah sabia disso. – diferentemente de Noderclift, onde há muito mais humanos do que Ninfas.
Micah colocou uma das mãos no ombro de Draco e fitou-o.
- Uma guerra vai estourar entre os Elfos – Micah falou pausadamente, pronto para o choque que aquilo causaria em Draco.
E assim se fez. Draco arregalou os olhos, a voz faltou-lhe por um momento, e quando se fez presente estava trêmula.
- Entre os elfos? Sempre ouvi dizer que o que eles mais prezavam era sua honra!
Micah fechou os olhos, pesaroso, sua reação fora exatamente à mesma do amigo, mas teriam que se acostumar. Tempos difíceis estavam por vir.
- E dragões meu amigo? Não prezam sua honra?
Draco ficou sem reação. A guerra entre os seus já se estendia por mais de meio milênio. Mas entre elfos? Estes eram conhecidos por sua honra, lealdade, fidelidade e afins. Viviam em paz desde ele podia se lembrar.
As coisas seriam piores do que podia imaginar.
- Quando chegar a hora, tudo se explicará. Por enquanto, apenas deixe-a em segurança, mas antes, você precisa dar seu voto de proteção, é o único representante dos 4 grandes que pode fazê-lo. – Micah tentou mostrar-se firme, mas não obteve muito sucesso. Apesar de tudo, era um anjo, não sabia como mentir.
- Eu, um representante dos 4 grandes? Não posso dar meu voto a esta criança – ele olhou, quase caindo em desespero, a pequena criaturinha nos braços do amigo – Foi você quem lhe deu a proteção do anjo? – indagou surpreso e quase orgulhoso pelo amigo.
- Não, não fui eu – disse Micah suspirando – mas Draco, você precisa fazê-lo. A história desta criança é muito mais complicada do que imagina. Viva mantém a esperança, morta a leva consigo. – Micah deu uma olhada nervosa em volta – Draco, você precisa ir. Não há muito tempo. Dê-lhe a benção, deixe a criança com Lucinda e mantenha distância. As Víboras sentem bem seu cheiro, mas não sabem qual é o da criança.
- Então é dela que vem este odor acre? Céus! Cheguei a pensar que a fralda da criança estava suja, ou sua roupa úmida e mal lavada.
 O anjo pareceu ofendido.
- Eu não a deixaria com fraldas ou roupas sujas. Além do mais, um cheiro não se assemelha em nada ao outro. Annabelle cheira como um grande buquê de lírios e talvez algumas uvas.
As sombras que antes perambulavam pelos galhos estavam concentrando-se em um só lugar; a névoa parecia mais espessa e se as três criaturas ali fossem humanas, provavelmente teriam sido sufocadas pelo ar pesado. As nuvens carregadas formavam uma grande espiral sobre a parte mais densa da floresta, que era justamente onde acontecia aquele... pequeno encontro. Draco voltou-se alarmado para onde estavam se aglomerando as sombras.
- Estamos atrasados – disse Micah pesaroso. – as sombras poderão atrasá-las, mas não por muito tempo. Tome – o anjo desenhou um círculo no ar e abriu a mão sob este, Draco viu uma pequena luz, que foi aumentando e dando forma à uma tiara, junto à um pedaço de pergaminho que foram colocados nas vestes da criança – assim, quando chegar a hora Annabelle saberá quem realmente é.
Draco pareceu ainda mais confuso, mas tomou a criança dos braços de Micah, olhou-o firmemente e ambos assentiram com a cabeça. Provavelmente não voltariam a ser ver. Mas era necessário que fosse assim.
- Meu amigo, não se esqueça das conseqüências do voto. A garota não pode morrer.
Um alto trovão fez-se ouvir, e Draco não pôde ouvir a ultima frase de Micah. Foi quando algo irrompeu as sombras.

12 comentários:

  1. Ainda vai ser muitooo famosa, muitooo bommm

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  2. Nossa Ana muito bom mesmo...
    Estou curiosa agora para saber o que vai acontecer com o Draco e com a criança..aiiii publica logo o livro. ^^ Estou na expectativa aqui de ler..

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  3. Caramba adorei. Adoro livros assim! Estou aciosa para ler a continuação estou a espera.

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  4. Adorei, muito bom mesmo. Poxa, agora eu quero saber o que vai acontecer..

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  5. Parabéns!
    Estou gostando muito do que li aqui...
    Vamos que vamos para o outro capitulo.

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  6. nossa você é muito talentosa,me deixou animada para ler os capítulos,realmente amei.
    Tens um jeito magnifico em escrever *-*

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  7. Bacana essa história! Sem dúvidas tem talento!

    Beijos,

    Nanie - Nanie's World

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  8. Parabéns, mal vejo a hora de ler o livro!!!

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  9. Nossa, não desviei os olhos nem por um minuto!!! Muito bom seu texto! Prende a gente de verdade!!

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  10. Nossa, bem interessante *-*
    Amo dragões, elfos e outros mundos... E acredito que em sua obra vou encontrar tudo isso :D

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  11. Draco, você já me conquistou, SEU LINDO!

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  12. Amiga!

    Quero maaaaaiisss!!!

    Que emocionante!
    O que vai acontecer com AnnaBelle?????
    Quem ela é realmente???

    Como assim os elfos vão entrar em guerra?

    Meo Deoosss!
    O mundo vai acabar!

    Quero participar dessa história e ajudar a slavar a garotinha!

    Vai ser sucesso hein!!!
    Me avise quando começar a pré venda!!!

    Bju de Brigadeiro!!!

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